quarta-feira, agosto 18, 2010

Entrevista publicada no jornal CBT educação RJ*

Esta minha entrevista foi publicada em abril no jornal da CTB educação/RJ, no mês de abril.
Quando a educação vai ser prioridade de fato?

É preciso analisar as políticas publicas que estão em curso no país e comparar com o que foi realizado nos outros governos. Da redemocratização até os dias de hoje, entendo que na era Lula essa prioridade foi um fato real, concordem ou não com as políticas encaminhadas. Posso citar algumas iniciativas: Reuni, construção de novas escolas técnicas, construção de novas universidades, piso nacional do magistério, reserva de vagas, cotas para negros, etc. Nestes oito anos de governo Lula o tema central é o desenvolvimento nacional, porém o que precisa ficar claro para todos é que não existe desenvolvimento sem investimento na educação.


O que precisa ser feito para melhorar a educação?

Articular todos os níveis do ensino brasileiro, da alfabetização ao ensino superior, e consolidar uma política educacional de Estado para União, estados e municípios. Aumentar a verba destinada para educação. Valorizar a profissão (ser) e o profissional (exercer). Há uma grande expectativa para que essas diretrizes, aprovadas na CONAE, se tornem políticas publicas de fato.

Agora é sentar e esperar, simples assim?

As únicas coisas que caem do céu são: chuva, granizo, avião, bomba e cocô de pombo. Hoje existe um contexto que impõem a necessidade de mexer na estrutura educacional brasileira. Nenhum país atingiu um grau de pleno desenvolvimento sem investir maciçamente em educação. Isso só será garantido com muita mobilização da sociedade civil, união entre os profissionais da educação e com os estudantes.

Que contexto é esse?

A alta tecnologia é o retrato do século XXI. Em qualquer área do nosso cotidiano, da mais simples atividade doméstica ou de lazer até a mais alta atividade produtiva ou governamental, passando pelo exercício heróico da docência e da produção acadêmica, ela esta presente. A palavra chave do nosso tempo é ciência e tecnologia.

Quais as implicações desse novo tempo para educação brasileira?

No meu entender uma inadiável universalização do ensino, da alfabetização ao 3º grau, maior investimento na produção de ciência e tecnologia, a introdução das novas tecnologias nas praticas pedagógicas e retomar o debate sobre a educação em tempo integral.

Quem vai pagar essa conta?

A responsabilidade de financiar a educação é do Estado. Até mesmo as instituições privadas sobrevivem com verba dos cofres públicos. O que precisamos debater é se o orçamento, hoje, destinado para educação é suficiente para dar conta dos novos desafios. No meu entender não.

Por quê?

Universalizar o ensino da alfabetização ao 3º grau implica em cuidar das unidades existentes, construir novas instituições de ensino, de pesquisa, aparelha-las com os mais modernos equipamentos, material didático, bibliotecas, contratar mais pessoal, melhor remunerá-los e garantir formação continuada sem ônus para os próprios. As previsões legais do que deve ser destinado para educação na união, nos estados e municípios, Art. 212 da constituição, se aplicados à risca, hoje são suficientes? Com a descoberta do pré-sal não podemos deixar passar a oportunidade de aumentar os investimentos na educação.


Não seria suficiente um choque de gestão?

Boa pergunta. Hoje existem duas correntes: a privatista e a desenvolvimentista. A privatista defende que dinheiro existe e não devemos aumentar os “gastos”, basta um choque de gestão para por ordem nos trilhos, caso precise de mais o caminho é buscar na “sociedade”, ou seja, na iniciativa privada.

E a desenvolvimentista?

Esta corrente entende que educação é investimento e não gasto. Acredita que para fortalecer a nação é preciso sim gerir bem as finanças publicas, mas também é necessário fortalecer o sistema público de ensino, em todos os níveis. A educação precisa ser vista como parte estruturante do desenvolvimento nacional e não como mercadoria.

E o ensino privado?

É preciso mudar o art. 209 da Constituição Federal. A educação não pode ser de livre iniciativa privada. É preciso mudar para concessão de serviço público. Assim seria possível controlar e cobrar melhores resultados educacionais.

E a qualidade do ensino?


Acredito que a qualidade do ensino pode melhorar muito se observarmos um tripé básico: condições de trabalho adequadas, profissionais com boa formação inicial/continuada e boa remuneração. Outra coisa que pode ajudar e muito é a desvinculação do sistema de avaliação da remuneração profissional.

*Esta entervista foi atualizada.

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