A morte do dançarino
DG, na comunidade do Pavão Pavãozinho, zona sul do Rio de Janeiro, põem as
UPP’S, mais uma vez, no centro do debate sobre sua eficácia.
Vou começar pela
hipocrisia, ou pelo show, promovido pelas diversas declarações sobre o
acontecido. O noticiário está cheio de afirmações sem a menor sustentação
factual, apenas opiniões altamente emocionais de um lado, outras nitidamente já
querendo defender a ação policial, outras querendo usar na disputa politica
eleitoral e ainda as pressões internacionais
questionando se o Brasil tem condições de oferecer segurança para Copa do
Mundo.
As declarações, do Secretário
Estadual de Segurança do Estado do Rio de Janeiro José Mariano Beltrame,
demonstram claramente sua concepção de guerra, onde erros e mortes fazem parte
do processo, ou seja, são meras estatísticas inseridas em busca do objetivo
maior, a guerra contra o tráfico. A
questão central, da pseudo guerra, é que entre a policia e os traficantes
existem moradores, trabalhadores, jovens, mulheres e crianças inocentes, que
sempre são atingidas por “balas perdidas”. Esta população sobrevive
à violência da policia de um lado e a do tráfico
do outro.
A estratégia de
ocupação territorial pelo Estado, conhecida popularmente como Unidade de
Policia Pacificadora-UPP, inicia suas ações pela ocupação militar, seja
estadual ou federal, para depois “introduzir políticas públicas mais
estruturantes”. O seu primeiro ciclo de execução, que compreendeu “pacificar” o
Complexo do Alemão, as comunidades do entorno do Maracanã, as comunidades da
zona sul e o Complexo da Maré, está concluído. Embaladas pelas mortes que já
não são isoladas, pela invasão dos bandidos foragidos para outros bairros e ou
cidades ao redor do município do Rio de Janeiro e por motivações politicas, culminam
por terminar a lua de mel entre sociedade e a politica de segurança pública de
Cabral e Pezão.
O segundo ciclo começou
fundamentalmente em função das mobilizações de 2013 que obrigaram o governo
estadual a ampliar a zona de ocupação dentro do município do Rio de Janeiro,
ampliar para baixada fluminense e para Niterói. Este movimento precisa ser
acompanhado da efetiva aplicação de politicas publicas estruturantes que
melhorem a qualidade de vida dos moradores dessas comunidades, pois até agora,
na maioria das ocupações, o que chegou foi o braço armado do aparelho de
Estado. Antes que usem o Complexo do Alemão para afirmar que politicas estruturantes
existem, quero lembrar que existem só no Alemão, ainda falta muito para atingir
toda comunidade e boa parte foi realizado com verba federal.
As imagens das forças
de ocupação botando a bandidagem no Complexo do Alemão para correr representou
um sopro de esperança para todos os cariocas. Este sopro de esperança está
ameaçado, não só pela bandidagem, mas também por uma pitada de ingenuidade.
Como é possível acreditar que, depois do Alemão, todas as ocupações da UPP
aconteceram sem uma troca de tiros, foi “pacífico”? Aqui reside uma máxima,
muito utilizada para ganhar a opinião publica: “o direito de ir e vir”. O
objetivo inicial era acabar com a livre circulação e ostentação de armas de
fogo no interior das comunidades e com isso os moradores sentirem o sabor de
caminhar sem medo pelas ruas, vielas e becos. Não nego que isso seja uma
importante conquista, mas não sou desses que acham isso a nona maravilha do
mundo. O tráfico não acabou, continuou o comercio de drogas, as bocas
continuaram funcionando e a violência assumiu novas formas. Se os bandidos
foram postos para correr, quem assumiu a gerência?
A morte do DG para
alguns foi uma fatalidade, para outros azar, estava no lugar errado na hora
errada, para outros incautos ele estava fugindo da policia, pulando muros (está
versão foi da mídia). Sinceramente, não me importa o que ele estava fazendo lá.
Eu sei que o sobrenome dele era Silva. Quantos Silvas morrem diariamente e
silenciosamente no Rio de Janeiro e quantos ainda irão morrer?
Para encerrar está primeira
parte não posso deixar de fazer um breve comentário sobre o show de hipocrisia
neste domingo. Não me refiro as legitimas e calorosas homenagens a DG, mas sim
ao chamado que determinado meio de comunicação de massa fez a sociedade,
escalando seus ícones para dizer em cadeia nacional que sua morte representa um
problema nacional. Continua...
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